POEMAS
Allan Maykson
Têm palavras que não só me tocam
Me tomam!
Entopem a garganta
Me Implodem!
Alguns poemas não só me tomam
Me bebem!
Me roubam a paz
Me roubam por trás
Fatal-e-Abrupta-mente
Num repente desigual.
Algumas declamações não me bebem
Me vomitam!
Escarram na minha cara crua
Palavras que eu preciso ouvir.
Me acusam
Me abusam
Me usam
Me... calo...
04 de maio de 2016
Uma proposição muito feliz para esta aula foi a elaboração de falas internas para os poemas que íamos apresentar. Quero considerar que essas apresentações tratam o poema de maneira integralmente cênica, extra-cotidiana. O poema é material para elaboração de imagens, visualizações, substituições e outros dispositivos cênicos que levam à uma "declamação" expansiva, dilatada e conseguintemente à uma eminência poética.
A elaboração desse "subtexto" é uma herança deixada por Stanislavisky como uma ferramenta de apropriação textual do trabalho atoral cujos estudos eram baseados apenas nas leituras cruas dos roteiros. Stanislavsky era ativista da construção interna do texto, afinal, ele reconhecia a presença de muitos conteúdos subjacentes à palavra. (PIACENTINI, p. 66, 2011) Mais tarde, Eugênio C. Kusnet, ator de formação Stanislaviskiana abordará uma modalidade do subtexto chamada por ele de "fala interna".
Existe também o "monólogo interior" adovogado pelos dois e também por Knébel. "O ator conversa consigo como se fosse o outro que escuta; pensa durante a cena. Esta voz marca. Esta voz, ele fixa via manuscrito - e repete." (ARRUDA, p. 3, 2012)
A fala interna trata daquilo que o texto não diz, é uma subpartitura, um subproduto que deve ser capaz de sustentar a atividade cênica ou a ação, quer seja física, vocal e mental.
Analisando a tabela, é possível observar claramente que para a última estrofe do poema eu simplesmente me esqueci de elaborar a fala interna. O resultado disso foi fantástico! Eu simplesmente não consegui apresentar a última estrofe da música mesmo sabendo da letra. Tenho uma certa intimidade com essa canção, mas o material interno foi tão bem delineado que o que não entrou no trabalho pré-expressivo não conseguiu dar vasão.
Concluo, portanto, a partir desse fenômeno que a fala interna, além de enquadrar organicamente os materiais, também tem o potencial de impregnar a palavra física (poema, roteiro, texto) no corpo e na mente, porque a sua construção é multi-materializada, ou seja, utilizamo-nos de diversos recursos que trazem consigo uma memória do que se deseja externar, a palavra física acaba se embricando nesse material interno que se comunica o tempo todo com as nossas memórias (corporal e mental).
Piacentini (2012, p. 66) aponta que "o que existe em uma ação cênica é a junção inseparável entre o corpo e o mental, o físico e psíquico, o anímico e corpóreo", fomentando a energia circundante e imparalizável da dilatação mental tão defendida por Eugênio Barba em "A Arte Secreta do Ator" (1995).
Arruda (2012, p.1) sustenta essa íntima relação assinalando que "o manuscrito revela-se como um instrumento de fixação dos impulsos e enquadre das cenas na criação atoral. Implica a profunda intimidade entre palavra (escrita) e corpo."
Na próxima de aula nosso exercício será o trabalho com a repetição desse poema, com a apropriação integral do mesmo, do todo, do poema físico e do poema interno. Certamente a memorização desse material trará maior liberdade para exploração de nossa plasticidade tanto corporal quanto vocal. Digo isso com certa propriedade porque a música estava toda guardada por mim, então essa liberdade de expansão permitiu uma exploração digna ao poema de visualidades.
A elaboração desse "subtexto" é uma herança deixada por Stanislavisky como uma ferramenta de apropriação textual do trabalho atoral cujos estudos eram baseados apenas nas leituras cruas dos roteiros. Stanislavsky era ativista da construção interna do texto, afinal, ele reconhecia a presença de muitos conteúdos subjacentes à palavra. (PIACENTINI, p. 66, 2011) Mais tarde, Eugênio C. Kusnet, ator de formação Stanislaviskiana abordará uma modalidade do subtexto chamada por ele de "fala interna".
Existe também o "monólogo interior" adovogado pelos dois e também por Knébel. "O ator conversa consigo como se fosse o outro que escuta; pensa durante a cena. Esta voz marca. Esta voz, ele fixa via manuscrito - e repete." (ARRUDA, p. 3, 2012)
A fala interna trata daquilo que o texto não diz, é uma subpartitura, um subproduto que deve ser capaz de sustentar a atividade cênica ou a ação, quer seja física, vocal e mental.
O POEMA - VIVO (Lenine)
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A FALA INTERNA
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Precário, provisório,
perecível;
Falível, transitório,
transitivo;
Efêmero, fugaz e
passageiro
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Ah! O homem!
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Eis aqui um vivo, eis aqui
um vivo!
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Eu me salvei!
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Impuro, imperfeito,
impermanente;
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Não acredito!
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Incerto, incompleto, inconstante;
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Chega dar graça!
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Instável, variável,
defectivo
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Ódio!
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Eis aqui um vivo, eis
aqui...
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É verdade...
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E apesar...
Do tráfico, do tráfego equívoco;
Do tóxico, do trânsito nocivo;
Da droga, do indigesto digestivo;
Do câncer vir do cerne do ser vivo;
Da mente o mal do Ente coletivo;
Do sangue o mal do soro positivo; |
Joga tudo na cara!
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E apesar dessas e outras...
O vivo afirma firme afirmativo
O que mais vale a pena é estar vivo! |
Contunua!!!
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É estar VIVO
VIVO
É estar VIVO |
Gol !!!!
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Não feito, não perfeito, não completo;
Não satisfeito nunca, não contente;
Não acabado, não definitivo
Eis aqui um vivo, eis-me aqui.
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Analisando a tabela, é possível observar claramente que para a última estrofe do poema eu simplesmente me esqueci de elaborar a fala interna. O resultado disso foi fantástico! Eu simplesmente não consegui apresentar a última estrofe da música mesmo sabendo da letra. Tenho uma certa intimidade com essa canção, mas o material interno foi tão bem delineado que o que não entrou no trabalho pré-expressivo não conseguiu dar vasão.
Concluo, portanto, a partir desse fenômeno que a fala interna, além de enquadrar organicamente os materiais, também tem o potencial de impregnar a palavra física (poema, roteiro, texto) no corpo e na mente, porque a sua construção é multi-materializada, ou seja, utilizamo-nos de diversos recursos que trazem consigo uma memória do que se deseja externar, a palavra física acaba se embricando nesse material interno que se comunica o tempo todo com as nossas memórias (corporal e mental).
Piacentini (2012, p. 66) aponta que "o que existe em uma ação cênica é a junção inseparável entre o corpo e o mental, o físico e psíquico, o anímico e corpóreo", fomentando a energia circundante e imparalizável da dilatação mental tão defendida por Eugênio Barba em "A Arte Secreta do Ator" (1995).
Arruda (2012, p.1) sustenta essa íntima relação assinalando que "o manuscrito revela-se como um instrumento de fixação dos impulsos e enquadre das cenas na criação atoral. Implica a profunda intimidade entre palavra (escrita) e corpo."
Na próxima de aula nosso exercício será o trabalho com a repetição desse poema, com a apropriação integral do mesmo, do todo, do poema físico e do poema interno. Certamente a memorização desse material trará maior liberdade para exploração de nossa plasticidade tanto corporal quanto vocal. Digo isso com certa propriedade porque a música estava toda guardada por mim, então essa liberdade de expansão permitiu uma exploração digna ao poema de visualidades.
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