terça-feira, 3 de maio de 2016

ESTAVA LÁ A PARTITURA QUE EU NÃO QUIS

O ABANDONO
Allan Maykson

Um caminho de (auto) negação
de ausência de mim.
Os outros corpos na minha ação
geraram o estopim
gestaram a vida que eu perdi 
a vida pela qual não me doei 
foi como ver um filho abandonado 
por outra família criado 
vindo na minha cara e bater. 
A minha alma saiu de lá 
e pra lá não quis voltar
porque achou que aquele lugar 
era uma cabana frágil demais. 
É impressionante que todo vazio
se preenche até mesmo fora de nós...

03 de maio de 2016



Essa aula de corpo foi um pouco diferente. Mas para dizer sobre ela, preciso da mesma inspiração que nela tivemos:

Gal Costa e Zeca Baleiro - Vapor Barato.



Comecemos o aquecimento com outras proposições e não mais torcer, furar e empurrar o ar, mas sim, arranhar, socar, puxar, chutar e beliscar. 

CALEFAÇÃO
Allan Maykson

Lanternas e pausas 
Escuros e espelhos
- os de fora e os de dentro. 
Substituições, visualização dos fatos 
- odiados, criados, esquecidos e reprimidos. 
Suor e respiração 
gás e oxigênio 
o degustar do veneno interno
as portas do inferno 
contrapondo o terno 
desenlace do que seria eterno. 
Figuras e visualidades 
ora inteiro, ora metade 
ora livre, ora em grades 
ora morto, ora "mate!"

03 de maio de 2016


     Anteriormente nos foi pedido para roteirizarmos alguma das partituras físicas criadas a partir dos textos de Tennessee Williams para desenvolvermos nessa aula, poderia ser a nossa ou a de outra pessoa, contudo a partitura deveria ser feita a partir do vídeo. A minha eu não quis, mas outras pessoas quiseram, e sobre o que senti quando a vi acabei de expressar no primeiro poema. 

     Me interessei pela partitura detalhista de Sami, por um auto-desafio mesmo. Eu queria experimentar movimentos sutis, pequenos, os quais tenho dificuldade de realizar. Por isso, comparando minha partitura com as outras percebei que eu poderia deixar a minha e absorver uma outra que me trouxesse maior repertório corporal, no entanto, acabei por criar repúdio sobre a minha construção. 

      O trabalho de roteirização consistia em descrever as ações, dar nome para cada uma delas e atribuir falas internas, realizei os dois últimos comandos por falta de entendimento mesmo: 

Ação 1: Tapete de grama
Fala interna: “Deixa eu me ajeitar aqui no chão”.

Ação 2: Toque Labial
Fala interna: “1,2,3,4...alguém aí? 1,2,3,4...alguém aí?”

Ação 3: Agressão
Fala interna: Larga. Larga! Me larga!

Ação 4: Dança do Cisne
Fala interna: “Preciso desamarrar essa mão com cuidado, (furar o ar) depois desamarrar a outra e levantar sem fazer barulho.”

Ação 5: Fuga
Fala interna: “larga o meu cabelo. Larga o meu cabelo. Larga!”

Ação 6: Arrependimento
Fala interna: Que nojo de você! Que nojo! Que nojo!

Se ajoelha
Ação 7: Fraqueza
Fala interna: Como eu fui burra!

      Execução da partiturização:



      Esse trabalho de partiturização propõe uma apropriação visualmente individual da partitura do outro. É visível o efeito que a fala interna possui na autenticidade da realização da mesma partitura por pessoas diferentes. Cada experienciador tem a sua identidade e as visualidades que suscitam são frutos de uma construção bem elaborada de um arranjo que encapsula a memória pessoal do ator com os conteúdos externos, promovendo uma variação riquíssima de fisicalidades que conversam in cena. 

      Barba (1994) defende que o pensamento também é uma ação. Para ele "não há ação vocal que não seja ação física, e nem ação física que não seja ação mental", sustentando, assim, o que ele chamou de Dilatação Mental, o movimento interno que vasa para todo o corpo, tal qual a função da pré-expressividade também teorizada por ele. 

      Por fim, em se tratando de efeito psicológico, ver a minha partitura sem mim foi chocante, mas de uma maneira muito positiva, porque vi mais que a beleza ausente de outrora, vi verdade nos olhos, essa verdade nos olhos conversou comigo, me inquietou. Bom, "amanheceu, é hora de voar". 

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