Aula no pátio, bem na frente do Centro de Vivência. "Liberdade pra dentro da cabeça".
Não obstante das demais aulas de Jogos Teatrais, nossa tarefa foi simplesmente jogar. Jogar num ambiente mais aberto onde a acústica não privilegia a voz, uma amplitude incomparável a do palco, um espaço cênico em que tudo que estiver contido nele pode fazer parte da representação, obstáculos, monumentos, espectadores. É preciso explorar muito mais a plasticidade do corpo para suprir a limitação vocal. Espera! Eu disse simplesmente?!
Inicialmente a professora explanou a respeito de algumas características do Teatro de Rua, e antes de falar objetivamente sobre a aula, também quero discorrer um pouco sobre essa modalidade teatral.
O Teatro de Rua é bastante exigente. Demanda mais expansão vocal e dos movimentos. A estética corporal, as ações físicas, as diversas visualidades, a oscilação rítmica, a exploração espacial, o exagero, podem garantir uma atenção do coletivo, do público que passa ou dos nossos espectadores.
No artigo "Sobre um Ator para um Teatro que Invade a Cidade", André Carreira, Doutor em Teatro pela Universidad de Buenos Aires e professor da Univerdade Federal de Santa Catatina, dá características valiosas sobre o "Teatro Invasivo", fazendo alusão ao Teatro de Rua.
Carreira (2011) considera a cidade como texto dramatúrgico, sob a premissa de que o ator é um artista que contribui para a reformulação da nossa noção de cidade. Trago à memória discurso sobre a função da arte na ótica de Aristóteles, que a trata como imitadora das coisas não como elas são, mas como deveriam ser na sua perfeição. A arte, portanto, tem função de representação e transformação. (A ESTÉTICA EM ARISTÓTELES. Disponível em <http://www2.anhembi.br/html/ead01/filosofia/lu13/lo3/index.htm> Acesso em: mar.
Ainda recorrendo ao artigo, podemos considerar alguns pormenores importantes que precisam ser lembrados quando a performance na rua for pensada:
1. A cidade é um lugar inóspito para o teatro;
2. Não encontramos nas ruas pessoas de braços abertos para uma representação teatral;
3. As pessoas circulam desejando cumprir seus objetivos cotidianos;
4. Jogam quando estimuladas, ind'assim, realizam o precisam realizar.
5. A cidade não é um palco habitual com o qual lidamos corriqueiramente.
6. Não podemos considerá-la como cenário. A cidade não contém a cena e nem a ilustra.
Percebe-se, portanto, mais alguns desafios. A grande verdade é que a cidade, a rua, as praças, e todo qualquer espaço urbano modula a técnica interpretativa.
Na foto é possível perceber o espaço cênico utilizado. A voz praticamente desaparece, então o ideal é explorar o potencial do corpo e também os espectadores. Vale lembrar que dessa vez, os grupos, propositalmente, foram mais heterogêneos, ou seja, não foram os mesmos integrantes como normalmente é, dessa vez eu era o único homem para três mulheres.
Nossa estrutura de jogo:
QUEM: Professor, e alunas no curso de Educação Física.
ONDE: No GIMCA na UVV.
O QUÊ: Continuando a aula de Circuitos.
REGRAS:
1. Três integrantes ficam lado a lado, um por vez dá um comando para que o "aluno em teste" desenvolva.
2. A cada três passos, as pessoas que compõe o trio, faz um agachamento.
3. Quando o "aluno em teste" cansar, ele deve "tocar o apito" de quem o vai substituir.
4. Quando o "aluno em teste" tocar o apito, todos devem fazer o barulho de seu apito.
5. o "aluno em teste" deve direcionar o trio no espaço cênico.
Como é possível perceber, foram muitas regras. Na postagem passada eu havia informado sobre minha dificuldade em administrar tantas regras, e desse vez não foi diferente. A regra 3 foi a mais desobedecida.
Em determinado momento, inseri o público em cena, foi aí que a performance pegou fogo e a regra 1 também se perdeu no meio do processo.
Aqui está a performance:
Quero fazer algumas ressalvas para não me esquecer. Algumas regras e performances dos meus colegas me chamaram muito a atenção, deram certo, foram atrativas para o espectador, conquistaram o público, então gostaria de registrá-las:
1. A "novela mexicana", do grupo da Dulce, que consiste em tirar o som da voz no meio da frase.
2. Usar o espectador na cena como objetos, como no grupo do Diogo. Genial.
3. No mesmo grupo, a regra "Mais" e "Menos", ou seja, "Mais expansão" dos movimentos e o contrário. Colocando a teoria no jogo. Isso foi fantástico.
4. Na cena do grupo da Juliana, em que todos procuravam pela Cíntia, mexiam com o público, perguntavam às pessoas de fora se viram ou se eram a Cíntia, o no final, a própria Cíntia estava se procurando no meio do grupo, fazendo uma alusão filosófica sobre "procurar a si mesmo". Me recordei bastante da música "Caçador de mim" de Milton Nascimento. Há uma potência à ser explorada nessa cena.
5. Uma regra interessante também, foi no grupo da Sami, em que o espectador diz "Volta" e a cena se retarda ou "Frente" para a cena prosseguir.
6. No mesmo grupo, quero ressaltar a parte em que o San foi o cachorrinho malcriado e a Sami, uma dona cuidadosa e delicada penteando seus pelos. A ação de pentear os pelos deu um tom de docilidade, sensibilidade e brandeza em relação ao cão, e de repente ele se faz rebelde. Uma dualidade que garantiu um choque de visualidades na ação e consequentemente a comicidade da cena.
Já que citamos acima, vamos finalizar essa postagem com a música "Caçador de Mim", mas na interpretação que acho mais efusiva, que acalenta mais a alma, com Zé Ramalho.
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