A VOZ QUE EU NÃO QUERO
Allan Maykson
Minha voz não anda forte
Minha voz anda fraquinha
Minha voz não é tão grande
Ela é pequenininha.
Minha voz que não me serve
Voz que eu não quero mais
Minha voz que vem tirando
Os poucos instantes de paz.
Minha voz que eu não quero
Minha voz que é só minha
Minha voz... me desespero
Voz que não entra na minha...
06 de abril de 2016
Esse poema externa o que implodia dentro de mim na aula de voz dessa. Simplesmente eu não estava satisfeito com a minha partitura vocal só porque as partituras dos demais tiveram mais expansão, mais vasão. Andei para todos os lados tentando esconder o meu "mal feito" ou "mal conseguido" só para não ser notado o quanto aquilo não me representava, no entanto, ao chegar em casa e analisar a minha atitude diante do que era meu, minha construção, precisei me dar uma bela lição de moral, só para não dar espaço ao ser egóico com o qual tenho aprendido a conviver.
Não tivemos as aulas da semana passada porque nossa professor e coordenadora do curso estava com os veteranos em Curitiba no Festival de Teatro. Em troca tivemos de estudar alguns textos. Pois bem, nos foi dada uma atividade para levarmos à aula: roteirizar as ações vocais. Não muito fácil de entender as coisas, então confundi aqui, acolá, mas no fim entendi um pouco e agora precisarei refazer minha roteirização. Está correta, porém, entendi que ela deve estar clara a ponto de um outro ator poder representá-lo sem dificuldades tantas de compreensão, como não imprimi as falas internas das ações, ficou um pouco vazio para um outro poder absorver e representar performativamente.
Quero dar destaque à roteirização da minha colega de sala Samires, excepcional artista, que foi minimalista na descrição das ações e falas internas. Ela possibilitou a visualização dos conteúdos internos de sua partitura vocal, conteúdos que entranham, que impregnam, que criam corpo. A palavra é o caminho para o corpo, para voz, para a dilatação dessa performance. Ainda sublinho que mais do que roteirizar as partituras de cada aula, ela as organizou como uma só cena, nada desconexo, pelo contrário, há uma linearidade, uma continuidade, uma poiesis lindamente descrita. Preciso parabenizar porque me ensinou muito.
Depois do deslumbre da partitura da Sami, apresento o modo simplista como escrevi a minha:
Voz –
23/02/16
Esta foi a minha partitura:
- Allan!
- Hum! (Desânimo, como se estivesse acordado naquela hora)
- O seu avô...
- Hã? (Assustado já
esperando o pior)
- Ele morreu!
- Ah!!! (Desespero, intensidade, expansão)
Apresentamos nossas partituras em grupos de 5 pessoas. Todos representando simultaneamente. Ficou muito interessante e seria uma ótima sugestão para apresentação de cenas curtas, por exemplo.
Voz – 01/03/16
Minha Ação Vocal baseou-se nestes trechos do texto:
"Quando eu cantava..." (uÚuuuu)
"... calar a boca." (Aummm)
"...todos os namorados dela." (metralhadora ddddddddddddd)
"Agora eu sou popular..." (Rah!
Rah! Rah! – com os braços para lá e para cá, como numa dança)
"Como eu danço bem." (Rahhhhh
– sensualizando)
"...medo..." (Sí-Fu-Xi-Báh
– olhos dilatados, aflição)
Voz – 15/03/16
"- Olha lá! Olha lá!
Lá! (Olhando para o alto e apontando)
- Ti...ti...tira!
Tira! Tira! (tom de nojo)
- Para! Para! Ah,
para! (convencido)
- Para! Para! (raiva)".
É nítido que escrevi como se eu mesmo fosse trabalhar com ela - o que também é um erro, porque nem sempre as falas permanecem na nossa memória corporal -, então não explorei tanto da descrição detalhada, também não escrevi as falas internas que são essenciais para a expensão, impressão de verdade e de organicidade às ações. Como destacou a professora, às vezes não é necessária a verdade, mas a performatividade precisa se presentificar. Tenho certeza que em outro momento discorreremos sobre esse tema.
Após dar diversos rodeios como uma fuga - claro que era - resolvi encarar o que construir. Não querendo executar, mas para tentar entender o porquê dessa reclusa, também para experimentar fazer o indesejado. Que corpo, que intensidade, que visualidade teria uma ação que não se deseja fazer, afinal, enquanto ator penso que isso vai acontecer algumas vezes, afinal, precisaremos trabalhar. E também na vida, no cotidiano estamos à mercê dos nossos indesejos.
Após conversarmos bastante sobre as partituras, tirando dúvidas e esclarecendo as ideias, entramos todos no palco para executar essas ações por dois motivos: (1) quanto mais fazemos, mas expandimos e potencializamos e (2) para lembrar é preciso nos remetermo ao corpo memória, discorrido por Grotowski quando trata das ações físicas. Essa lembrança não se trata apenas de um exercício mental, mas corporal também, cuida em colocar em ação o corpo-perceptivo, aberto às impregnações, às externalidades e internalidades que insurgirem.
Lembrando e/ou expandindo a partitura.
Enquanto isso a Rejane, nossa professora, estava analisando as ações e fazendo os recortes dela já para a Abertura de Processos, um evento em que as Artes Cênias mostra a sua cara à comunidade.
Após o recorte, fizemos as experimentações de como apresentaríamos nesse evento. Ela pensou numa organização de "painel", todos lado a lado, ombro a ombro, paredão, e executarmos as ações simultaneamente.
Experimentação da organização de palco
Apesar de a ideia parecer genial, não deu muito certo porque muitas visualidades, muitas cenas, muito ruído, desordem na mesma cena não caracteriza muito bem uma amostra de atividades. Ainda estamos organizando essa questão.
Por fim, terminamos a aula com uma conversa deliciosa sobre como faríamos a apresentação de "Jogos Teatrais" e olha que brilhante, resolvemos colocar todas ou a maioria das cenas numa só narratividade. Rimos à beça, quisera, as cenas de jogos o que expande sobretudo é a comicidade, o humor.
Sucesso para nós!
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