O CORPO LIMITADO
Allan Maykson
Allan Maykson
O corpo limitado não é corpo morto
É corpo encorpado de uma fraqueza
Que pode ser corpo enroupado de sutileza
E no palco, um corpo-delicadeza.
Um corpo melindroso para leveza
Um corpo estampado da certeza
Que o eu-corpo não está morto
Se move com seu frágil esforço
Jogando a dor para a cena
Deixando a fraqueza escorrer no suor
Porque aprendeu a técnica maior
Que não fere a vida, nem a envenena.
Eu que já sei que isto não me condena
E que amo a vida que não hei de perder
Levei este corpo dorido por dentro
Tirei-o do meu temeroso contexto
Deixei que a música cantasse comigo
E esse foi o meu pretexto.
Daqui a pouco o corpo desfalecido
Bailava entregue à cenicidade
Poderia ter sido um corpo vencido
Mas nele pulsavam dúvida e vontade:
Que corpo seria este meu limitado?
Seria um corpo cabível ao teatro?
Que corpo seria o corpo machucado?
Seria um corpo nada descartado
Apenas um corpo pouco movimentado
Mas jamais um corpo destreatalizado.
O corpo limitado não é corpo morto
É corpo que descobre seu potencial não experimentado.
22 de março de 2016
Começo esta postagem com um poema que apresenta meu estado corpo e espírito antes da aula. Fui à faculdade sentindo algumas dores no corpo precedidas de uma dorzinha na garganta. A aula de corpo é sempre intensa, com atividades que evocam toda energia corporal, que se utilizam de todos os nossos esforços, despertam o que dorme dentro da nós e nos leva à chama. Há uma troca energética orgânica, tira-se a energia suja do corpo, preparado-o para se abastecer de uma energia nova. Mas, vamos caminhar pela consigna desta aula: "O corpo limitado não é corpo morto[...], [...]é corpo que descobre o seu potencial não experimentado."
A aula aconteceu no GMICA (não recordo o significado das siglas), um ginásio poliesportivo da universidade. Lá existe um tatami enorme, ideal para os movimentos expansivos que necessitamos fazer.
Antes de iniciarmos o aquecimento corporal, já descrito nas postagens anteriores, a professora nos pediu que suscitássemos um universo ficcional, um personagem, e introjetássemos a diegese do mesmo. Feito esse enquadramento, nossas ações estariam, agora, situadas.
Também solicitou que escolhêssemos duas músicas, uma canção de ninar e um rock pesado, dois universos sonoros que se contrapõem em se tratando da questão rítmica, estética e plástica do corpo. Claro que o objetivo era mesmo suscitar outras visualidades, expandir nosso potencial criativo e subsidiar a possibilidade de criação de novos repertórios corporais, além de nos expor às variantes energéticas provocadas pela dualidade das ações em nosso corpo.
O universo ficcional que eu trouxe à luz, em primeira instância (depois explico o porquê), foi o do anime Avatar, que retrata os moderadores dos quatro elementos do universo: água, fogo, terra e ar. Como QUEM, escolhi o protagonista, Avatar, que era o único em cada geração, capaz de moderar os 4 elementos.
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Este é o personagem. Considerado um deus, um mestre, o destinado a proteger as aldeias dos elementos Ar e Água, contra a aldeia do Fogo, que em suma, queria dominar entre os demais.

Sempre trago à memória essa ficção porque me me vislumbra as ações físicas que todos os moderadores precisam fazer para que consigam controlar os elementos. É um tanto ritualístico. As ações geram uma poética que reverbera em mim uma beleza indizível, contestável. O fato de a ação do corpo ter o poder de uma reação externa, física, palpável, me tira do real e me teletransporta para aquele mundo diegético, aquele contexto. Me vejo imerso e perplexo com a plasticidade dos movimentos, envolvendo a delicadeza precisa a uma expansão poderosa resultante numa força. Uma composição de várias figuras, orgânicas e harmônicas para gerar um impulso e desse impulso, o poder de mover o mundo material. É ilógico, por isso fantástico. Me apequeno diante do brainstorm de sensações que ofegam meu corpo e minha mente.
Agora peço uma pausa para meu ego (risos), porque a canção de ninar que me veio sem passeios pela memória foi uma adaptação feita por mim e pela minha talentosa amiga, cantora, escritora e compositora, Andra Valladares, do poema de Cecília Meireles, A Bailarina:
Em se tratando do Rock, sinto dizer que, como não tenho familiaridade nenhuma com esse gênero musical, recorri à música Armazém, interpretada por Ana Carolina:
O universo ficcional que eu trouxe à luz, em primeira instância (depois explico o porquê), foi o do anime Avatar, que retrata os moderadores dos quatro elementos do universo: água, fogo, terra e ar. Como QUEM, escolhi o protagonista, Avatar, que era o único em cada geração, capaz de moderar os 4 elementos.
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Disponível em: <
Este é o personagem. Considerado um deus, um mestre, o destinado a proteger as aldeias dos elementos Ar e Água, contra a aldeia do Fogo, que em suma, queria dominar entre os demais.
Filme "Avatar: o último mestre do ar"
Disponível em: <http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-30601/> Acesso em: mar.2016
Sempre trago à memória essa ficção porque me me vislumbra as ações físicas que todos os moderadores precisam fazer para que consigam controlar os elementos. É um tanto ritualístico. As ações geram uma poética que reverbera em mim uma beleza indizível, contestável. O fato de a ação do corpo ter o poder de uma reação externa, física, palpável, me tira do real e me teletransporta para aquele mundo diegético, aquele contexto. Me vejo imerso e perplexo com a plasticidade dos movimentos, envolvendo a delicadeza precisa a uma expansão poderosa resultante numa força. Uma composição de várias figuras, orgânicas e harmônicas para gerar um impulso e desse impulso, o poder de mover o mundo material. É ilógico, por isso fantástico. Me apequeno diante do brainstorm de sensações que ofegam meu corpo e minha mente.
Agora peço uma pausa para meu ego (risos), porque a canção de ninar que me veio sem passeios pela memória foi uma adaptação feita por mim e pela minha talentosa amiga, cantora, escritora e compositora, Andra Valladares, do poema de Cecília Meireles, A Bailarina:
Disponível também em <https://www.youtube.com/watch?v=TxVsL97qx3g>
Disponível também em <https://www.youtube.com/watch?v=KIynYlYX1PE.>
Feito o enquadramento de todas essas informações, começa-se o exercício de aquecimento. Utilizávamos a música interna para cada parte do corpo que iríamos aquecer. Mais ou menos deste modo: para aquecer os pés, os girávamos no ritmo da canção de ninar, já no aquecimento dos joelhos, o Rock, ou a música mais ritmada era usada, e assim prosseguia o aquecimento. Além de empurrar o ar, furá-lo, pegar partes do nosso corpo e largar, agregou-se ao aquecimento a contorção do corpo e o deslizar-se. Ao menos eu não tinha experimentado essas duas ações antes nas aulas. Nessa segunda parte do aquecimento, sempre alterávamos as velocidades utilizando-nos, ainda, da música interna que escolhemos. Depois misturávamos todas as ações físicas.
Foi exatamente nessa segunda parte da atividade, que me insurgiu a necessidade mudar meu universo ficcional, então, absorvi a personagem autista Linda, da novela da Globo "Amor à Vida". Esse insigth foi decorrência de uma procura do material interno ideal que atendesse às minhas limitações corporais naquela noite.
Como dito anteriormente, eu não estava em meu melhor estado de corpo para as atividades, no entanto, eu quis entrar na atividade para conhecer que corpo se daria naquele processo, naquela estado. Então reuni algumas consignas:
1 - Há algum tempo eu tenho pesquisado durante as aulas, movimentos menores com meu corpo. Minhas ações são sempre expandidas, largas e grandes. Então, era o momento ideal para a pesquisa de ações contrárias ao meu tradicional.
2 - Meu corpo estava limitado. Não estava me sentindo bem.
3 - Os movimentos do Avatar eram expansivos demais para eu dar conta, apesar de serem movimentos delicados.
4 - A Linda tinha ações mais intensas, porém menores. E também tinha um olhar totalmente entregue à cena. Uma verdade muito mais acessível que a do anime, naquelas circunstâncias.
Quando a professora pediu para que contorcêssemos o corpo, usei da substituição, trazendo à tona minha experiência de quando tive crises convulsivas causadas por stress pelo excesso de trabalho. Me desconsertei internamente, bem característico da vulnerabilidade, estudada no texto "Arranjo e enquadramento n política do "E": por uma pedagogia do teatro híbrida", da nossa Profª Drª Rejane Arruda. A vulnerabilidade ocorre quando há a atualização da memória corporal, ou seja, quando uma forma corporal específica, enquadrada com seus efeitos de possíveis incidências, afeta o ator, de forma a atualizar marcas do afeto impregnadas na sua memória corporal.
O interessante foi utilizar do meu corpo-memória e fazer a ação de contorção no universo diegético da Linda, que já era autista. A princípio achei que esse hibridismo poderia comprometer a veracidade da ação, porém essa incidência foi ponto chave para a dilatação da ação, uma vez que insurgiu uma força contrária ao enquadramento.
Foi exatamente nessa segunda parte da atividade, que me insurgiu a necessidade mudar meu universo ficcional, então, absorvi a personagem autista Linda, da novela da Globo "Amor à Vida". Esse insigth foi decorrência de uma procura do material interno ideal que atendesse às minhas limitações corporais naquela noite.
Personagem Linda, de "Amor à Vida". Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2013/08/02/autistas-nao-tem-um-mundo-proprio-e-sofrem-com-preconceito-veja-mitos.htm> Acesso em: mar. 2016. |
Como dito anteriormente, eu não estava em meu melhor estado de corpo para as atividades, no entanto, eu quis entrar na atividade para conhecer que corpo se daria naquele processo, naquela estado. Então reuni algumas consignas:
1 - Há algum tempo eu tenho pesquisado durante as aulas, movimentos menores com meu corpo. Minhas ações são sempre expandidas, largas e grandes. Então, era o momento ideal para a pesquisa de ações contrárias ao meu tradicional.
2 - Meu corpo estava limitado. Não estava me sentindo bem.
3 - Os movimentos do Avatar eram expansivos demais para eu dar conta, apesar de serem movimentos delicados.
4 - A Linda tinha ações mais intensas, porém menores. E também tinha um olhar totalmente entregue à cena. Uma verdade muito mais acessível que a do anime, naquelas circunstâncias.
Quando a professora pediu para que contorcêssemos o corpo, usei da substituição, trazendo à tona minha experiência de quando tive crises convulsivas causadas por stress pelo excesso de trabalho. Me desconsertei internamente, bem característico da vulnerabilidade, estudada no texto "Arranjo e enquadramento n política do "E": por uma pedagogia do teatro híbrida", da nossa Profª Drª Rejane Arruda. A vulnerabilidade ocorre quando há a atualização da memória corporal, ou seja, quando uma forma corporal específica, enquadrada com seus efeitos de possíveis incidências, afeta o ator, de forma a atualizar marcas do afeto impregnadas na sua memória corporal.
O interessante foi utilizar do meu corpo-memória e fazer a ação de contorção no universo diegético da Linda, que já era autista. A princípio achei que esse hibridismo poderia comprometer a veracidade da ação, porém essa incidência foi ponto chave para a dilatação da ação, uma vez que insurgiu uma força contrária ao enquadramento.
A AÇÃO SOBRE O OUTRO
Empiricamente falando - porque ainda não li a respeito - a ação sobre o outro, é um termo designado à manifestação de um comportamento destinado a outrem. Uma atitude que inclui o outro, que o interfere, que o afeta, que o atinge. Trata-se de uma relação pessoal; da primeira pessoa, na presentificação do indivíduo, ou seja, não do eu-ator, mas puramente do eu; uma ação no nome próprio e não no personagem.
A atividade era o seguinte: fazíamos uma ação sobre o outro, depois o outro respondia à ação e começávamos a entrar naquela situação. É importante salientar que aqui não há encenação ou representação. É uma linha tênue entre realidade e teatro.
Não me atendei ao detalhe da ação sobre o outro que advoga a premissa de que este recurso cênico deve ser realizado na primeira pessoa. Portanto, me cabe dizer que, apesar de passarmos para a terceira parte da aula, não me despi do universos diegético no qual me inseri, a ação interna prosseguia organicamente, atingindo desde a menor partícula do meu corpo até os limites da epiderme.
Minha ação foi sobre a Thaís. Dei um beijo em seu rosto e ela me correspondeu com um abraço. Entramos nos embalos daquela situação que estávamos ornamentando naquela hora exatamente.
Houve uma nova incidência. Linda é mulher, na minha ação sobre a Thaís, eu era um homem. Um homem com o mesmo perfil da Linda, porém, um pouco mais lúcido. Um homem que conseguia tudo que queria, e naquela hora queria a Thais. Porém, um homem de estado psíquico frágil e de humor oscilante. Após recordar do detalhe dessa técnica, me indaguei: se a ação sobre o outro deve ser realizada na primeira pessoa, é possível que esta ocorra dentro de um contexto ficcional interno, ou seja, com o eu-ator? A professora disse que se eu consegui fazer assim, então a pergunta está respondida.
Um pouco sobre a ação sobre o outro:
O início
O processo
O CAMPO DE VISÃO
Para finalizar, trabalhamos o campo de visão, sobre o qual não vou discorrer tanto. Mais detalhes sobre ele veja a postagem "Improvisação Coral", da aula de Corpo I do dia 15 deste mês.
Quero dar uma pequena atenção sobre ao campo de visão duplo. Em determinado momento, a ação do líder começava no lado oposto do espaço cênico, deixando pouco mais da metade dos participantes imóveis, como acontece quando não há mais movimento no nosso campo de visão. Percebendo a divisão, a professora atribuiu ao lado imobilizado uma líder da mesma equipe, criando, portanto, outro campo de visão que acontecia simultaneamente ao primeiro. Fascinante!
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