Me olha! Com um olhar que desnuda
um olhar que compara
que repara, para, paira e analisa.
Me visa, me enxerga, me vislumbra
espreita minha camisa, meu cordão
e minha bermuda mais curta.
Allan Maykson
02 de março de 2016
O jogo de hoje não teve pretexto, explicação, preparação, apenas o comando: dois de cada vez subam ao palco e... AÇÃO!
Simples assim: ambos defronte reparando, reciprocamente, a aparência do outro. Um olhar minucioso, detalhista, minimalista, cauteloso - sem exageros - seria o ideal.
Pronto. Agora que cada um se reparou, é hora de virar-se de costas e desconstruir ou alterar 3 aspectos daquela exterioridade, de sorte que o outro não note a mudança.
Hora de se virar novamente. Em se tratando de mim, foi um pouco evidente que o Diogo trocou tudo: os lados do chinelo, da aliança de compromisso e do óculos. O óculos foi a melhor! Eu dobrei a bermuda, segundo Diogo, encurtei, também troquei a pulseira de pulso e virei meu cordão. É! O cara é bom na percepção. Dei foi sorte, porque o jogo foi muito rico nos pormenores escondidos.
Mas tratamos da primeira etapa. Vejamos a segunda: a mesma dupla irá criar um QUEM, O QUÊ e ONDE com a situação encenada, mas há uma regra: todas as cenas devem conter o ato de observar.
Eu e Diogo elaboramos a tríade desta maneira:
QUEM: Eu fui o Alberto, o Diogo a minha esposa, até então indigente.
O QUÊ: Alberto não repara a produção da esposa.
ONDE: Saindo de casa para uma festa.
Hora de representar. Respeitamos o princípio dos jogos de improvisação. Não ensaiamos nada, apenas planejamos a tríade. Difícil conter-se na cena, o cômico tomou conta da situação e deu certo, no meio da cena insurgiu subitamente o nome para minha esposa: Clarice. Clarice estava irritadíssima e não queria sair de casa enquanto o Alberto não reparasse toda a sua produção. No final, era mais fácil ele beijá-la que notar o loock da esposa.
Quero frisar sobre a relevância da REGRA nos jogos teatrais. Ela nos permite ter controle da situação que procede no palco. Tendo a tríade bem definida e a regra também, a improvisação flui naturalmente sem perder a objetividade do jogo e nos fornece subsídios para uma concentração satisfatória que não comprometa o percurso da cena, nos fazendo sair do personagem, da situação e até mesmo não concluir o trabalho no palco por falta de direcionamento e clareza.
Interessante que o medo sempre vem. O medo de fazer feio, de não agradar. Mas estando claro o que se quer encenar, percebemos que o agradável é cumprir bem o jogo.
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