quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

FORÇA ESTRANHA

"Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista
O tempo não para e no entanto ele nunca envelhece
Aquele que conhece o jogo, do fogo das coisas que são
É o sol, é a estrada, é o tempo, é o pé e é o chão."

Esse poderoso fragmento da música "Força Estranha" de Caetano Veloso, é a melhor síntese que externa tamanho êxtase que senti no momento em que assistia ao vídeo sobre a aula de corpo da segunda semana de fevereiro, gravado e editado pela minha colega de sala e talentosíssima artista, Juliana Reali. Aula esta em que não pude - lamentavelmente - estar.

     Tanta abstração me empolga. Tamanha dilatação corporal me emudece para que com olhos marejados eu me permita fruir de toda aquela diegese traduzida por mim e para mim, trazendo à tona conteúdos intrínsecos, emoções despidas que exalam o doce perfume da certeza, a incontestável certeza de que a linguagem cênica é um percurso sem volta para acessar o nosso inconsciente.

   É tão revelador... o corpo é tão comunicativo, que nas partituras mais tênues presentifica-se o nosso eu, por vezes muitas na instrumentalidade cênica, na técnica, mas na genuinidade que ninguém nos tira: a nossa alma. Até porque o corpo cênico não é dicotomizado. Somos um ao representar um outro. E é sobre essa unicidade humana que quero expor tudo que vi da aula que faltei.
   
     PARTITURAS DE DENTRO
     Allan Maykson

     Eu vi uma leveza marcante
     a timidez arredia
     o medo que cerca
     a fuga, a queda.

     Eu vi a morte matando
     também vi a morte morrida
     a fraqueza e a raiva
     a alma ferida.

     Eu vi o silêncio agudo
     a desistência.
     Eu vi a união de mil mundos
     a indecência.

      Eu vi a cesura na mão
      uma pausa e um tapa.
      Eu vi um olhar de agressão
      vi mil almas libertas.

      Eu a vi declaração
      o abraço e o riso.
      Eu vi muito mais compaixão
      do que vi egoísmo.

      Eu vi não uma possessão
      mas o puro sentimento.
      Eu vi muito mais emoção
      que razão. Mais que o cênico.

      Eu vi um mundo de amor próprio
      na íntima relação
      entre o eu
      e seu empoderamento.

      25 de fevereiro de 2016


     

Nenhum comentário:

Postar um comentário