Um estúdio de TV nada a ver com o que eu pensava sobre estúdios de TV's. Mas a surpresa não ficou por aí. Além das caixas com faces multicoloridas e berço de outras e outras caixas, que tal vivenciar primeiramente a prática corporal no contexto cênico para depois discorrer sobre as teorias concernentes a essa experiência? Façamos, portanto, assim, sem explicação. De supetão. E o curso começava...
Um gran círculo, de fronte para rostos recentes que com o tempo se tornariam inesquecíveis e, simplesmente, fragmentos do nosso novo eu. O objetivo da aula foi vivenciar uma espécie de dilatação do corpo, da criatividade, dar forma ao pensamento.
Iniciamos com alguns exercícios de alongamento. Incomuns até. Diferenciados. Pés equiparados, joelhos entre-dobrados e prontos para receber o que havia de vir. Mexer esfericamente os ombros, os dedos, as pernas, o quadril, o calcanhar, o tórax... esfregar as mãos no corpo como num banho de sábado, sem deixar que nenhuma parte ficasse sem gozar daquele capricho. Mais alguns minutos, depois do "banho" é hora de lançar fora toda energia pesada, a sujeira, tudo o que não nos pertencia. Foi vivificante.
Sabe aquele desenho "Avatar e os quatro elementos"?! Para que os personagens conseguissem controlar seus poderes de "moderar" a água, o ar, a terra e o fogo, era preciso fazer um movimento ritualístico correspondente ao respectivo elemento. Foi isso que me veio à tona quando tivemos de "interagir com o ar". Interagir com o ar de forma que ele nos empurrasse. Era preciso traduzir aquele movimento agregando alguma situação cotidiana para que pudéssemos expandir a criatividade. Aplicar a força e intensidade era estritamente necessário.
Após o duelo com o ar, nossos dedos deveriam furar o céu, o ar, ou um balão, ou nem precisariam furar, mas apenas dançar ao léu. Mais tarde, tivemos de a unir delicadeza à força dos dois movimentos intercalando-os entre si. Mas nada tão inesperado como "agredir a si mesmo", pegar partes do seu corpo e arremessar como se fossem desprendidas, como se elas não nos pertencessem, como se sentíssemos repúdio por essas.
Após o duelo com o ar, nossos dedos deveriam furar o céu, o ar, ou um balão, ou nem precisariam furar, mas apenas dançar ao léu. Mais tarde, tivemos de a unir delicadeza à força dos dois movimentos intercalando-os entre si. Mas nada tão inesperado como "agredir a si mesmo", pegar partes do seu corpo e arremessar como se fossem desprendidas, como se elas não nos pertencessem, como se sentíssemos repúdio por essas.
Agora, fazer o mesmo no corpo do outro... o outro desconhecido, que se tornaria, com o tempo, mais íntimo e parte de nós... Pois o acasalamento de almas foi bem ali. Ali se construiu a unidade, a intimidade, o corpo cênico perfeito, que se interagia inspirado pela energia circulante. Não foi magia. Foi energia. Uma energia que alimentava o suor, o cansaço, a mobilidade, a veracidade. Uma energia precisa quando a ordem foi integrar os quatro movimentos aleatoriamente.
Por fim, em duplas e um trio (o meu), o objetivo foi criar um contexto linear para os movimentos. O que aprendemos ser partitura corporal. Não mais silentes, os movimentos iniciais, tímidos e quase que auto-censurados, ganharam o empoderamento, podiam ter voz e uma história construída em apenas um diálogo. A minha história: duas amigas na boate de uma favela, eu, o grande criminoso e machista que as odiava. No meio de todos nos olhamos com ódio. Me posicionei para agredí-las, como feras, se defenderam, como frágeis, apanharam.
Cada dupla construiu uma linda história, de amor, de dor, de perda, de morte, de violência, de cumplicidade, de delicadeza, de amizade. Cada dupla, com a sua verdade, fez um ótimo trabalho.
Mente e corpo sãos. Viva as Artes Cênicas!
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