Esta canção me inspirou, suscitou imagens, evocou memórias, despertou palavras...
Pelo menos agora dispenso citações, referências bibliográficas, recuos, normas, regras, formalizações, correções. Só vou deixar o texto em "justificado" para não perder o senso de organização das ideias. Ao menos as ideias precisam se organizar, já que as emoções entraram em um disparate sem precedentes.
Às vezes o pensamento me devora, o pensamento em torno de uma história, não a diegese da coisa, mas a coisa que se transforma numa diegese. Se eu não tivesse sentido o calor do abraço de quem agora me inspira, certamente eu iria acreditar que fui o ser humano mais pulsante e criativo quando vivi tudo isso.
Mas, mais intenso do que viver é não poder viver. Constatamos isso com o passar dos dias. Tudo a nossa volta evolui, as pessoas encontram seus amores, seus caminhos, suas aventuras, encaram uma experiência nova, enfim, a vida acontece, enquanto algumas perdas me estremecem, me estagnam, retiram toda força de seguir, até eu descobrir um ponto de fuga: a arte. E quando a arte não basta? Me engano, me saboto. A arte possui tantas vias, passaredos, calçadas, ruas, atalhos, estradas... quando a arte não basta a morte nos achega. Que sentido tem a vida sem poder expressar?
Eu que sou poeta, sei que às vezes a palavra não basta. Tudo bem que não é preciso saber que em determinado momento a palavra não vai dar conta da complexidade de uma emoção. Apenas uma emoção pode exigir dizeres múltiplos. É labiríntico, enigmático. Quem é que sabe o que é apenas uma emoção? É indiscernível.
Saborear palavras que externam uma saudade mal dita, como esta que não sei bem dizer, pode ser difícil. Quando sinto saudade não sinto apenas saudade, sinto falta, sinto ausência, sinto medo, sinto ansiedade, sinto muito... Sinto o sufoco dos meus pequenos graves erros. Sinto a culpa de uma perda irreparável. Sinto, também, que não fui esquecido, mas me sinto esquecido, não lembrado, não mencionado. Ah, o grande amor...
"Eu queria mais tempo, queria mais tempo" para as coisas melhorarem, para eu compreender o quanto eu o amava até não compreender mais. Agora que não compreendo mais esse amor, é que sei que verdadeiramente amo, mas está tudo tão distante, tão perdido, que não sei se amo um "quem" ou um "o quê". Alguém ou um ser extraordinário? Alguém ou uma circunstância? Alguém ou um "ou"?
"Eu queria mais tempo, queria mais tempo" para perceber como dói uma lágrima quando ela não é mais ouvida, apenas provada pelo meu paladar, pela minha pele sobre a qual escorre e percorre... Tantas vezes meus olhos marejaram porque "eu queria mais tempo, queria mais tempo" para ter tempo de perder o tempo ao lado do meu grande amor.
De repente eu não perdi só alguém. Eu perdi um rumo, uma parte de uma boa perspectiva de vida, um projeto promissor de autorrealização. Perdi um oxigênio calmo, uma presença curadora, uma voz apaziguadora, uma alma protetora. Estou à mercê, pagando pra ver, perdendo por não ver, não ver outras possibilidades. Sim, eu perdi todo senso e vontade de seguir em frente, de recomeçar...
Algumas pessoas são tão fortes, não é? Conseguem levar à fio uma decisão que sacrifica o amor. Por que sacrificar o amor? Por que terminar com um amor que não acabou? Não acabou, mas agora acaba comigo.
"Eu queria mais tempo, queria mais tempo" para fazer mais fotografias suas na minha cabeça, mais tempo para nos encontrar depois de tanto tempo e nos abraçar como se tivéssemos todo o tempo, uma demora sem horas, uma despedida longa, ao contrário da curta chegada.
Há sentido em tudo isso? Em jogar palavras ao vento tentando encontrar você em algum lugar, resgatando imagens que rasgam meu peito, fazendo meu coração vazar pelos meus olhos. E a vontade de te ligar? E o medo de você não atender? Um motivo a mais para sofrer, para arder nos cantos da casa, lavando uma louça, arrumando um quarto, cuidando dos gatos...
"Eu queria mais tempo, queria mais tempo" para te falar sem cansar que te amo, te amo, te amo... Lembra? A gente não parava. Ríamos. Sempre ultrapassávamos a meia noite, nosso horário limite. Todas as vezes "eu queria mais tempo, queria mais tempo".
Aos poucos as pessoas conhecem nossa história. Você não sabe, mas acho que um dia eu te disse que o mundo ia conhecer a nossa história...
Acho que depois dessa música, realmente as palavras terminam. Deixo que a lágrima continue...
Allan Maykson
Nenhum comentário:
Postar um comentário