por Allan Maykson²
Somos raízes profundas. De histórias nossas, não nossas, e de todo um inconsciente coletivo... Somos muita coisa. Somos tanta coisa que quase somos ninguém.
E esse "somos muita coisa" é só o que sabemos somos, fora o que não sabemos, o que a ciência não descobriu, não foi capaz de desvendar.
Lidar com um ser humano é incrível. Me fascina lidar com a complexidade da vida. Eu não sei muita coisa, não tenho tantos estudos assim ou experiências. Basicamente tudo que sei veio comigo, ou vem junto de uma percepção e sensibilidade que não sei de onde vem.
Eu sou uma alma vagante com certeza, que pisa e pisou vários mundos, vários corpos. Trago comigo dogmas entalados na minha garganta os quais ainda não sei vomitar. Mas eu quero tentar. Eu quero não mais ser escravo de um estereótipo.
A alma não tem silhueta!
A alma não tem forma, a alma não tem cor, a alma não tem cheiro, ela tem energia... Falar sobre a alma é contestar outros dogmas, é assumir uma outra fatia da vida - ou da morte - para agregar à complexidade de quem nós somos.
Quanto mais achamos o que somos, mais dissomos, como dissolver... Que complexo, mas que simples. Que sem nexo, mas que coerente. Que avassalador, mas natural...
O que é o homem? O que é a alma? O que é um homem sem alma? O que é a alma sem o homem? O que é apenas o homem? O que são apenas as almas?
Existem tantos modos de conceber a vida, as relações, as paixões... É possível ser mexido, no sentido de tocado, por alguém não nos atrai? Atrair e "mexer" são as mesmas coisas? É possível ser mexido sem ser atraído?
Por que tudo precisa de título? Por que somos fascinados status? Por que as relações e emoções precisam de traduções claras?
Isto tudo pode ser uma emoção que não sei dizer em uma palavra só!
E por que tudo precisa ser dito? As coisas não podem ser traduzidas em um abraço? São podem ser resumidas em um afeto?
Estamos em crise, porque sempre fomos a crise existencial.
Existir é crítico! É obscuro. O que é existir? O que é ser? O que é viver? O que é estar? O que é?
A educação está em crise, o ensino da educação está em crise, o pensamento da educação está em crise, os mestres da educação estão em crise. Somos uma crise. O que é uma crise?
O Mesmas Coisas³ me ensinaram que eu sou uma invenção. A minha crise existencial nunca foi tão bem explanada: eu sou uma invenção que inventa, que reinventa, que desinventa, que venta ao léu, à esmo, ao bel-prazer. O prazer de ser tanta coisa e não ser nada, de ser as mesmas coisas. E posso sim ser as mesmas coisas, mas sempre no plural! Sempre no plural!
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Notas
¹ Foi uma conversa com um rapaz chamado Diogo. Tudo começou porque ele queria saber o que achei quando o vi pela primeira vez. Eu disse que não me atraiu, mais algo brilhou...
² Graduado em Pedagogia e especialista em Competências Docentes com Ênfase no Ensino Superior pela Faculdade Pitágoras - Campus Linhares (ES). Atualmente estuda pós-graduação em Arteterapia pelo Instituto Fênix de Ensino e Pesquisa e, concomitantemente, Licenciatura em Artes Cênicas pela Universidade Vila Velha. É integrante do grupo de pesquisa "Poéticas da Cena Contemporânea", com seu projeto “Intrateatro: procedimentos cênicos aplicados à Arteterapia” sob a linha de pesquisa “A Poética Cênica, Seus Dispositivos e Estratégias de Transmissão”. Possui experiência profissional em cursos de pós-graduação e graduação como docente convidado e substituo, e em todos os níveis da educação básica como professor, coordenador de cursos preparatórios e coordenador geral. É membro-fundador da dupla Meninice de música, poesia e contação de histórias e da CIA “Cômodos” de teatro.
³ Uma compania de teatro que obsecada por Manoel Carlos Karam que conheci em Curitiba - PR. Para saber mais: http://mesmascoisas.art.br/
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