19 de abril, dia do índio, do aniversário de Roberto Carlos e do meu aniversário, também deve ser "dia internacional da prova na escola (sempre tem)" dessa vez não, mas nunca pensei que seria o dia duma surra interna...
A aula de Voz I, asism como todas as aulas práticas, desde a divulgação da Abertura de Processos, se dedicará à sua colaboração para esse evento. Colocaremos em palco nossa performance de Corpo I junto com o que nos foi proposto em Voz. Logo, a voz está incumbida de gerar conteúdos internos para o corpo, veja só que que fecundo, um verdadeiro solo fértil. "Que venha com saúde".
No dia do meu aniversário a primeira aula foi esta. Anteriormente a professora nos havia pedido que levássemos o nosso poema, o mesmo da aula de corpo, porque dedicaríamos esse tempo para estudar propostas de leitura desse material. A proposta foi uma leitura extra-cotidiana, abarcada do diferente, vozes que não estão presentes no dia-a-dia, ou pelo menos uma expansão vocal cujo próprio nome já sugere a extra-cotidianidade, aquilo que não se vê comumente, que foge do clichê, do usual, do banal, uma fala cênica, mais que impostada, mas potencializada à gosto do enquadramento interno.
A proposição é brincar com a palavra, com sílabas, explorar as articulações faciais, expandir, dilatar, causar o estranhamento com a fala cênica. Essa brincadeira com a dicção deve atender às demandas da poética cênica, ou seja, para gerar poética é preciso gerar inquietude, alarde, dúvidas, curiosidade do espectador e até mesmo de si. A dilatação nada mais é que a ampliação, então é necessário saborear cada sílaba, controlar o tempo, fazê-lo atemporal, excluir toda linearidade de uma leitura convencional e fazê-la arrítmica, é trazer o ruído à tona, o embaraçamento, afinal, quando a visualidade é mais forte, a visualização é maior.
A leitura deve ser como um refluxo energético, um encapsulamento interno que precisa extravasar, se libertar, rasgar, se presentificar.
Enquanto os poemas eram lidos, nosso dever no papel de ouvintes era criar imagens internas, um brainstorm imagético para cada poema. No primeiro poema tudo ocorreu bem, foi possível gestar esse conteúdo a partir do poema do Alberto, meu colega de sala, um escrito que me trazia a ideia de um mundo fragmentado, de um homem fragmentado, de um mundo meio que Matrix e sua ideia de pedaços.

Foi um poema que me incitou bastante imagens com as quais eu soube lidar.
Os poemas traziam a história de cada aluno. Explícito que muitos deles eram um desabafo, uma espécie de tradução perfeita sobre o que está introjetado, oculto ou indizível. Senti que os poemas revelavam certa obscuridão de cada um, tratava dos assuntos mais complexos e delicados com os quais, talvez - agora me incluo - nós não conseguimos lidar cotidianamente.
Os versos apresentavam nossas fraquezas, nos estraçalhavam, nos mandavam "aquele" recado. Eram versos de pedidos de socorro. Se só eu enxerguei isso, claro que o pedido é meu...
Os poemas traziam a história de cada aluno. Explícito que muitos deles eram um desabafo, uma espécie de tradução perfeita sobre o que está introjetado, oculto ou indizível. Senti que os poemas revelavam certa obscuridão de cada um, tratava dos assuntos mais complexos e delicados com os quais, talvez - agora me incluo - nós não conseguimos lidar cotidianamente.
Os versos apresentavam nossas fraquezas, nos estraçalhavam, nos mandavam "aquele" recado. Eram versos de pedidos de socorro. Se só eu enxerguei isso, claro que o pedido é meu...
Devo dizer que fui fundo nas imagens que imergiam. Vieram à tona diversas lembranças, situações, complexos... os poemas incidiram dentro de mim, me surraram, botaram fogo no meu aconchego-intocável-inerte contido nos escombros da minha psique. Eu não dei conta. Em determinado momento a única imagem que me vinha era da obra de Edvard Munch, O Grito, que apresenta uma profunda angústia e desespero existencial.
A aula acabou, mas eu me encontrava atormentado. As imagens me invadiram descontroladamente e claro, eu quis o controle de tudo, tomei como consigna o tal acontecimento e a partir daquele dia esse fato me tornou um problema antropológico (meu) para eu cuidar.
Outras vezes tivemos de fazer essa gestação de imagens, mas em todas elas demos vasão, pomos para fora, dessa vez não, aquela anergia pesada tornou meu oxigênio (ou gás carbônico) e não tive como libertar isso por meio de um treinamento energético, por exemplo, ou então resignificar essas imagens através de uma ação física.
Cheguei à conclusão de como as aulas práticas podem ser catárticas, ao mesmo tempo essa ferramenta poderosa que é a linguagem cênica precisa ser muito bem conhecida para sabermos fazer o uso correto. Tudo que geramos internamente é energia, e como disse Barba discorrendo sobre a Dilatação, "ter energia significa saber moderá-la". Esse é o meu desejo para que em outros tantos momentos de produção de conteúdos internos eles não venham me tragar com "tudo e corpo".
Saí da aula com o corpo febril. Até comentei com uma colega que comprovou a alta temperatura apesar do ar-condicionado.
Para finalizar, deixo o poema que fiz durante a aula como uma tentativa de externar aquela perturbação interior. Uma tentativa infeliz, mas que a partir da poética gerou um poema que, intitulo agora como
Para finalizar, deixo o poema que fiz durante a aula como uma tentativa de externar aquela perturbação interior. Uma tentativa infeliz, mas que a partir da poética gerou um poema que, intitulo agora como
SURRA POÉTICA
Allan Maykson
Olhos fechados
Poemas me afetam
São flechas queimadas
Meu doce veneno.
Poemas enormes
Sucumbem este poeta pequeno
Me jogam no chão
Me vejo fugaz
O corpo presente
A alma tenaz
O choro retorna
Transborda às estranhas
Palavras agridem
Com força tamanha.
As pausas me ferem
As pernas balançam
O corpo em febre
A alma se cansa.
Me sinto pesado
Tolo e inerte
Doroso esse fardo
Na alma dita livre...
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