A minha aflição não é apenas não saber ao certo do que se trata o "Não eu-meu", mas de quantos ou dos "quens" se trata.
O caos de me ser é avassalador! Queria mesmo ser um Demiurgo de mim, e organizar a minha matéria caótica segundo os preceitos do ideal de mim. Mas não consigo me desvencilhar da máxima "Quem sou eu?".
NÃO EU-MEU
Allan Maykson
Sou meu próprio elemento atrapalhador
Minha própria oposição
Sou afeto, dejeto, coração
Sou minha própria extensão
Minha auto-oposição.
Mutilo meu personagem
Me misturo a ele
Sou a plasticidade dele...
19 de agosto de 2017
Não me satisfaço com a vida que tenho, não me sinto satisfeito com minhas proposições cênicas, com minhas criações. A arte não me basta. Eu preciso do amor. "O amor que faz girar o mundo", como diz a Duquesa (eu) em Alice.
Falando em Alice, e em Duquesa, é interessante de se pensar que ela dá voz a uma aspecto de mim: minhas sombras. Ela pode ser irônica e deve, pode ser poderosa, inteligente, sagaz, uma grande pensadora, confiante... oras, quantos desses adjetivos são sombrios? Por que os escrevi como sombrios? O que a sabedoria quer me dizer? Ato-falho?
Não obstante, a Madrasta, em Cinderela, meu personagem, é um desdobramento da Duquesa. E fico muito feliz em poder assumir, estudar e desdobrar uma construção que já era tão potente e inteira. A Duquesa é uma extensão de mim, mas é Duquesa, não sou eu.
Poderia a Madrasta ser menos eu, menos Duquesa e mais um não-eu? O que é ser um não-eu? Quanto de não-eu posso doar à Madrasta? O Não eu-meu é pode ser uma figura distante de mim? O Não eu-meu seria exatamente essa busca insana pela distância de mim? Quando menos eu mais poético? Quanto menos eu mais personagem? Quanto mais sacrifico de mim mais não me tenho no personagem? O caos de não me ser na vida, se equipara ao caos de não me ter no pepel? O quanto o não eu-meu é experimentável, possível, degustável, plausível?
Eu não tenho o Não eu-meu como práxis formada, fundamentada e experimentada. Não descobri meios, formas, "comos", métodos, procedimentos. Essa crise de não tê-lo me aflige e também desperta o desejo de buscá-lo, porque buscá-lo é buscar-me. Eu quero dizer que, esse meu novo projeto de pesquisa "ATOR E ALTERIDADE: O "NÃO-EU MEU" COMO PROPULSOR DE UMA PLASTICIDADE DOS AFETOS", não nasceu pelo projeto, pela necessidade de se desenvolver uma Pedagogia do Ator, não apenas isso, nasceu como uma Pedagogia para me encontrar, tal qual o primeiro projeto que dá título a esse blog, o "Intrateatro: Procedimentos Cênicos Aplicados à Arteterapia", neste eu me encontrei e ainda me descubro nele.
Por que Alteridade? Por que "Não eu-meu"? Por que "Plasticidade dos afetos"? Como defender tudo isso? O campo da experimentação é crucial. Vivenciar. O importante aqui é assumir que o IC é uma busca por mim mesmo. E qual homem não se busca? Quem não se busca? Se não se busca, se resgata, mas estamos sempre nos movimentando com as engrenagens do desejo.
Nas experimentações de Cinderela, eu observava tantos corpos, desenhos, ações, visualidade que eruptizavam no palco. Me perguntava: quem é quem? Quem é que está dentro? Quem é que está fora? O que introverte? O que extroverte? E se eu dissesse "Seja menos Samires!" ou "Seja mais Anastácia!", que figura viria? Que corpo a Sami poderia buscar dentro de mim, para onde ela iria ao procurar a Anastácia dentro de si? Qual parte de si seria esse personagem?
A Duquesa e a Madrasta, quem são essas figuras? O que elas representam de mim? É possível criar algo que seja totalmente distante de quem eu sou? É possível um Não-eu que não seja meu?
Não me pertence, mas é meu também. Eu doei, saiu de mim para alguém, não é mais meu, mas sou eu... E acredito nessa doação o tempo todo de grafias, fragmentos, pedaços de nós... Acredito que não se passa no mesmo rio duas vezes, acredito que, depois que joga uma pedra no rio, nunca mais ele será o mesmo. Levo minha existência assim... eu nunca mais serei o mesmo depois deste texto, assim como nunca mais serei o mesmo após entrar no meu quarto e me deparar com informações que me despertaram pensamentos novos ou os mesmos pesamentos num momento novo. Cada atravessamento me torna não mais o mesmo de antes e esse "antes" acontece o tempo inteiro, o passado se faz segundos depois do presente, depois dizem que o que depois só pertence ao futuro... bobagem!
Eu quero devanear meus gritos
Florescer em meus ritos
E desentalar os meus vômitos.
Quero me despir dos meus martírios
Usufruir dos meus delírios
Explorar esse meu eu atônito.
Quero descobrir o que eu sou
Quero saber que não sou nada
Que não sou pronto e acabado.
Quero errar todos os meus pontos
Quero ser lápis que se aponta
Até sobrar mais nada...
Allan Maykson
19 de agosto de 2017
As reticências são minha melhor poesia.
Ser Madrasta pode ser um desafio pouco, por conta de alguns registros já estarem impregnados na minha tessitura corporal, porém, não me satisfaço, eu me desfaço, até disfarço, mas meu anseio é ainda construir, elaborar, rasurar, para que a Madrasta surja cada vez mais. Foram 3 encontros da nova pesquisa e alguns registros já se diferem.
A Duquesa é fluída, a Madrasta é engessada. A Duquesa escorre, a Madrasta engessa. A Duquesa é fugaz, a Madrasta é presente. A Duquesa é a lava descendo, a Madrasta é a erupção. A Duquesa é escorregadia, a Madrasta é áspera. A Duquesa é leve. A Madrasta é firme. A Duquesa é do canto popular, a Madrasta é lírica, canta ópera...
A relação entre as duas está na Oposição.
O Não eu-meu também pode se apropriar da oposição entre ator-personagem, da oposição ator-animal, animal-personagem... mas desejo chegar num oposição ator-ator, personagem-personagem. Oposição dentro de um mesmo enquadramento.
O Não eu-meu também pode se apropriar da oposição entre ator-personagem, da oposição ator-animal, animal-personagem... mas desejo chegar num oposição ator-ator, personagem-personagem. Oposição dentro de um mesmo enquadramento.
Por fim, o caos de me ser me é. A minha crise de existir, também é minha crise de criar. O Não eu-meu busca respostas para comunicar a mim sobre mim mesmo.
Avante!
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